Cerca de sete milhões de brasileiras vivem com a doença e poucas entendem o que ocorre com o seu corpo.
O fato de a endometriose atingir 10% a 15% das mulheres em idade fértil é um dado consolidado. Agora, você já pensou que este número se refere a cerca de sete milhões de brasileiras? E, por mais que se fale sobre o assunto, a necessidade de informação é constante. Afinal, estamos abordando uma doença em que as suas causas não estão completamente definidas e o tratamento é muito especifico a cada caso. Também, muitas mulheres não sabem como funciona o próprio corpo e, com isto, não conseguem entender a própria doença. Pensando neste tema, o especialista em endometriose, Dr. Marcos Tcherniakovsky, ginecologista e obstetra e membro da Sociedade Brasileira de Endometriose, preparou um vídeo especial que explica a endometriose e responde as perguntas mais comuns a respeito da doença.
Link do vídeo: https://is.gd/EndometrioseDrMarcosTcher
1) O que é endometriose?
Endometriose é a saída do tecido endometrial, aquele que descama todos os meses na menstruação, para fora do útero. O que acontece é que esse tecido pode se implantar na região pélvica como nos ovários, embaixo do útero, no intestino, na bexiga, assim como pode implantar-se em locais a distância como o apêndice e diafragma. Isto leva a uma reação inflamatória que pode ser muito pequena ou muito intensa.
2) Quais são as possíveis causas da doença?
As principais causas da endometriose, as quais nós estudamos muito hoje, são: alteração do sistema imunológico, ao qual nós ainda não sabemos ao certo qual é essa alteração, mas nitidamente que justificaria os casos mais agressivos e outros menos agressivos; o fator genético, que seria algum traço que a pessoa carrega no seu DNA e que pode estar envolvido com o desenvolvimento da doença; o aumento do fluxo menstrual que pode ser causado por mioma, pólipo uterino e toda doença que seja estrógeno dependente, ou seja, que tem o hormônio estrogênio agindo mais ativamente, e que torna a mulher mais suscetível a desenvolver a endometriose; e por fim, o fator familiar, pois hoje nós sabemos que filhas de mulheres que já tiveram a endometriose têm uma propensão maior a desenvolver a doença.
3) Quais são os sintomas?
O principal e mais frequente sintoma da endometriose é a cólica menstrual. Eu não estou falando de uma cólica normal que não interfere em nada o dia-a-dia da mulher, mas, de um caso, por exemplo, em que ela não tinha nenhuma cólica e passa ter mês a mês, também aquela mulher que convivia com a cólica, mas, mês a mês ela se torna mais intensa e começa a atrapalhar a sua rotina. Dores pélvicas crônicas com um quadro doloroso maior que seis meses e sem melhora clínica também são frequentes. Outros sintomas: alterações intestinais, como uma obstipação maior e sangramento intestinal. Na parte urinária, podemos ter o comprometimento da bexiga, sangramento e dor ao urinar. Além disso, há casos de inchaços abdominais e dores nas relações sexuais e o histórico de infertilidade, o que não quer dizer que a mulher não possa engravidar.
4) Como é feito o diagnóstico?
Basicamente dividimos o diagnóstico entre o clínico e cirúrgico. O clínico é feito com base nesses sintomas que comentei anteriormente. Mas, o principal, é um exame detalhado, um exame de toque, em que o médico especialista vai procurar alterações na pelve, se atentar a dor na mobilização do útero, se o órgão está fixo e se tem algum cisto de ovário. No toque, a gente consegue ter, hoje, com base em estudos, 70% da suspeita da endometriose. Pensando na endometriose, nós vamos solicitar exames que possam comprovar a presença da doença. Estes exames seriam dois: a ressonância magnética com preparo intestinal e/ou um ultrassom endovaginal com preparo intestinal. Em casos com indicação cirúrgica, a videolaparoscopia é a técnica de escolha.
5) Quais mudanças a endometriose pode causar na vida de uma mulher?
Uma das grandes características da endometriose é a mudança da qualidade de vida da mulher. Ela deixa de fazer as atividades de sua rotina ou não ter ânimo para novas experiências por conta da dor que, muitas vezes, a impede de trabalhar, praticar esportes, estudar e etc. Muitas mulheres tem alterações de humor e frequentemente existe uma alteração muito grande do estresse, por conta dessa dor. O que nós procuramos fazer diante disso é melhorar a qualidade de vida desta mulher. Buscamos eliminar todos os focos da doença ou fazer um tratamento clínico, com medicações, que vai bloquear a menstruação, pois é o período em que os sintomas da doença mais se manifestam.
6) Como a endometriose é tratada?
Na parte clínica, nos baseamos no uso de anti-inflamatórios, analgésicos e anticoncepcionais hormonais, que neste caso é usado de maneira contínua para bloquear a menstruação. Isto acontece, porque, uma vez tendo endometriose, aonde tiver o implante da doença dentro da barriga, se a paciente menstruar, ela vai sangrar em todos esses implantes, pois ele é um tecido ativo, igual ao da camada interna do útero. Em casos de falha no uso de medicações, progressão da doença ou acometimentos de outros órgãos como intestino, bexiga entre outros, estaria indicada uma abordagem cirúrgica. Hoje, fazemos isso por meio de uma videolaparoscopia ou por cirurgia robótica, em que há rápida recuperação e resultados satisfatórios na maioria dos casos. Em situações de infertilidade, não usamos medicamentos para o tratamento da mesma e dependendo de cada caso, a videolaparoscopia também estaria indicada.
7) A endometriose tem cura?
No caso da endometriose nós não usamos o termo cura, e sim controle. Cura é quando as lesões são retiradas e a doença nunca mais volta. Mas, no caso da endometriose, fazemos o controle, assim como em mulheres com miomas, nódulos nas mamas e outras doenças que podem ter recidiva. Hoje, conseguimos controlar a endometriose a ponto de a mulher poder ter uma vida completamente normal. Se considerarmos que a incidência de endometriose na população que menstrua é de 10%, significa que a cada 30 mulheres, três teriam endometriose e nem sabem. Então, uma vez tendo endometriose e sendo assintomática a vida é normal. Agora, tendo informação e recebendo o tratamento correto o mais precoce possível, o ganho de qualidade de vida é muito grande. Nos casos de dores incapacitantes, com um tratamento adequado e consequentemente a retirada de todas as lesões e reações inflamatórias, a volta da qualidade de vida é muito grande.
8) Quando uma mulher deve procurar um ginecologista em caso de endometriose?
Histórias de dores ao menstruar, infertilidade, dores no ato sexual, como também ao evacuar e/ou urinar tem que chamar a atenção. É importante procurar o especialista para afastar qualquer suspeita da doença. Outro ponto é estar atenta as mudanças que ocorrem no corpo durante o intervalo de uma consulta de rotina e outra. Fazer um diário dessas alterações e levar ao especialista para dialogar a respeito delas. E se ela estiver certa de que é a endometriose, mas não recebeu o diagnóstico, faça uma busca dos profissionais que são especialista na doença para afastar qualquer dúvida.
Dr. Marcos Tcherniakovsky é Ginecologista e obstetra – Especialista em Vídeo-Endoscopia Ginecológica (Histeroscopia e Laparoscopia) e Endometriose. Atualmente é Médico Responsável pelo Setor de Vídeo-endoscopia Ginecológica e Endometriose da Faculdade de Medicina da Fundação do ABC. É médico responsável na Clínica Ginelife.
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